Deputado Ronaldo Caiado avalia cenário político
Ronaldo Caiado (DEM-GO) é deputado federal dos mais renomados do País. Após sua quinta eleição para a Câmara, ele é uma das vozes mais respeitadas no Congresso e recentemente foi escolhido uma das 33 personalidades do Parlamento com maior influência. É ácido com seus adversários políticos, sem perder a polidez de médico de formação parisiense e uma das maiores autoridades em cirurgia da coluna vertebral. Sabe formular uma proposta política com propriedade de quem já auxiliou presidentes e governadores a superar dificuldades e diz que há políticos de caráter sólido, como os que militam em sua seara política e outros de “caráter líquido”, que se amoldam a qualquer governo sem qualquer pudor de se entregar ao mais descarado fisiologismo. Em visita ao DM, ele falou da formação da nova frente política e de suas expectativas para 2014, e frisa não ter feito campanha para o governador, pois “gato escaldado tem medo de água fria”.
Diário da Manhã – Como é ter o reconhecimento de ser uma das pessoas mais influentes no Congresso?
Ronaldo Caiado – Primeiramente, eu quero dividir essa classificação feita pelos jornalistas que cobrem o Congresso com toda a população goiana. É uma confiança que o povo de Goiás tem para comigo em cinco eleições para o Legislativo. Isso nos impõe muito mais obrigações do que direitos, e eu tenho uma responsabilidade redobrada de poder lutar por meu Estado, pelo setor produtivo e por áreas que eu conheço bem, como saúde, educação e a situação da agropecuária. Neste momento, estou respondendo pela liderança do Democratas, pois o deputado ACM Neto está candidato à Prefeitura de Salvador. É uma alegria receber uma honraria como esta diante de 533 deputados federais.
DM – É mais fácil ser oposição ou situação?
Ronaldo Caiado – Todo político tem sempre por objetivo disputar eleição e chegar ao governo. Esse é o objetivo partidário. Nossa função é lutar para que nossas ideias sejam implantadas e é fundamental, para isso, que você tenha uma estrutura que chegue ao poder nas prefeituras, nos Estados e até à Presidência da República, para ter o comando nacional da política. Esse é o primeiro lugar desses objetivos. Sem estar no poder, sem ser o dono da caneta, na maioria das vezes é difícil fazer chegar aos seus municípios os benefícios que gostaria e que precisam.
DM – Dê exemplos desse tipo de políticos de caráter líquido.
Ronaldo Caiado – O recém-fundado Partido Social Democrático, o PSD, é o melhor exemplo disso, sem sombra de dúvida. Eles vieram em decorrência desse processo que foi montado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e pelo ex-ministro chefe da Casa Civil, Antônio Palocci. Isso foi feito dentro do Planalto para desestabilizar as oposições, tirando um grande número de deputados que compunham a oposição naquele momento, e o partido que mais perdeu foi justamente o Democratas. Esses deputados aderiram de acordo com as benesses e concessões que o governo fazia. O objetivo era criar um partido único no Brasil, como existe na Venezuela. Só para terem uma ideia, hoje o Brasil tem o menor percentual do Congresso Nacional de Oposição. Apenas 17% do Congresso brasileiro é oposição. É o menor percentual da América Latina, e o PSD é fruto dessa mecânica engendrada pelo Palocci e pelo Kassab, com anuência do Palácio do Planalto, para diminuir a força da oposição. Mas a sociedade sabe diferenciar isso e dá importância a quem faz um trabalho honesto, de princípios e firme de oposição. Nós não mudamos o discurso, não tervigersamos de nossas posições e não abdicamos de nossa dignidade para discutir os grandes temas nacionais. O resultado é que o DEM perdeu gordura, aqueles oportunistas que gostam da sombra do poder se foram e ficaram os autênticos, ficou um grupo harmônico e aguerrido. Esse pessoal do caráter líquido não dá conta de ficar longe do poder.
DM – É difícil fazer oposição ao governo federal?
Ronaldo Caiado – A sociedade está percebendo que esse modelo do governo do PT está se exaurindo, tomando conhecimento do desastre de gestão da Petrobras, com a atual presidenta tendo de explicar prejuízos bilionários, e o governo que nega repasses à saúde e provoca o caos na saúde e outros setores estratégicos.
DM – O DEM destoou da base do governo e lançou um candidato próprio à prefeitura. Isso é um prenúncio de racha na base do governo?
Ronaldo Caiado – Eu sempre busquei trabalhar uma ideia política de princípios, onde o projeto deve ser sempre maior que qualquer dos indivíduos que compõem essa base. No momento em que isso é transferido apenas para poder servir de base de apoio ou vocalizar o sentimento de apenas uma pessoa, é lógico que esse projeto não tem como caminhar. O DEM hoje tem deputados que fazem parte da base do governo estadual, mas eu, como deputado federal, sempre fui independente. Desde minha campanha eleitoral que estou independente e não tenho nenhum vínculo com a campanha majoritária para o Estado de Goiás, não fiz campanha para o governador. Até porque sigo a máxima popular de que “gato escaldado tem medo de água fria”.
DM – Essa frente poderá seguir até 2014?
Ronaldo Caiado – Eu sempre tentei criar em Goiás aquilo que estamos vivenciando agora. Conosco, a sociedade sabe que teremos uma nova frente política que vai amadurecer e chegar firme em 2014 .